Formação musical contínua - final do artigo

Formação musical contínua - final do artigo

Continuando o tema "Formação Musical Contínua", que foi começado aqui dia 16 de fevereiro, e conforme foi prometido, vamos falar hoje sobre os objetivos cognitivos, afetivos e psicomotores.

 

Os objetivos cognitivos são focados na tarefa intelectual e podem ser dispostos em seis categorias conforme o grau de complexidade: conhecimento, compreensão, aplicação, análise, síntese e avaliação. Por exemplo, num curso de análise musical o instrumentista poderá conhecer as formas musicais, compreender através dos exemplos propostos e aplicar em outros, tentar analisar as peças mais complexas executadas no ambiente de trabalho. Essas primeiras etapas irão conduzir o aprendiz à síntese e a avaliação posterior do material até o ponto que ele possa produzir uma análise de uma interpretação ou julgar a composição, confrontando as informações, idéias etc.

 

Os resultados de aprendizagem caracterizados como atitudes, tendências emocionais, valorização entre outros, podemos chamar como objetivos afetivos que possuem cinco níveis: receptividade, resposta, valorização, organização e caracterização. Um cantor, depois de assistir a palestra sobre saúde vocal, mesmo sabendo a respeito dos efeitos de nicotina para as pregas vocais (nível de receptividade), pode não parar de fumar e somente se interessar saber mais sobre o assunto (nível de resposta) ou, finalmente, abandonar o vício e até tentar convencer outros seguir o exemplo (valorização). Já a categoria organização subentende que a pessoa, levando o valor adquirido em outro nível de consciência, irá rever, por exemplo, seus hábitos de alimentação. Nessa e a última categoria (caracterização) o valor passa a ser uma característica global incorporada ao comportamento do indivíduo. 

 

Objetivos psicomotores, relacionados às ações motoras ou musculares, dividem-se em cinco estágios: percepção, posicionamento, execução acompanhada, mecanização e domínio completo dos movimentos. Por exemplo, num curso básico de regência o aluno passa por primeiras três etapas: percepção de movimentos e atitudes do professor, posicionamento do próprio aparelho (corpo, braços etc.) e realização dos exercícios de regência e, finalmente, execução de uma obra simples sobre a supervisão do professor. Depois se o músico tiver interesse ele poderá chegar até nível de mecanização e domínio completo, praticando e interpretando as obras musicais.

 

Depois que os objetivos relacionados aos problemas de desempenho ficaram claros podemos aproximar-se a escolha da modalidade do curso que será aplicado. Para cada um dos objetivos elaborados deve ser proposto o mecanismo de aprendizagem adequado. Por exemplo, cursos de natureza cognitiva exigem o repasse de informações, conceitos, metodologias e procedimentos técnicos, de forma que os alunos devem ter a oportunidade de acessar tais materiais. Essas ações educacionais podem exigir dos alunos uma atividade prática, por meio de simulações, trabalhos de campo etc. Os programas de esfera psicomotora os meios de aprendizagem também devem favorecer o exercício da habilidade.

 

Segundo Meneses, Zerbini, Abbad (2010), no caso de ações que visem ao desenvolvimento de atitudes (ou comportamentos), a interação entre alunos e destes com professores e tutores é fundamental. O planejador instrucional deverá escolher os meios que viabilizem esse tipo de situação. Dinâmicas de grupo, debates, modelações comportamentais são de grande valia.   

 

Atualmente o posicionamento das organizações musicais modernas no mercado depende cada vez mais do desenvolvimento constante dos projetos e programas que são capazes de aumentar sua competitividade. Em outras palavras, elas devem ser universais para agüentar a concorrência, produzindo em todas as esferas musicais possíveis: interpretação, ensino, composição e, até, pesquisa.

 

Hoje em dia os conjuntos musicais acabam sendo contratados para realizar trabalhos bastante variados: alem de executar os estilos musicais muito distintos (ópera, rock, música contemporânea ou antiga etc.), eles precisam às vezes se subdividir em conjuntos menores para interpretar a musica de câmera ou dar aulas para crianças entre outros.

 

Para que o indivíduo seja capaz de enfrentar as exigências crescentes da organização é necessário oferecer ou cursos preparatórios de curta duração ou uma série de palestras ou outros meios educacionais. Dependendo da organização ou do conjunto poderiam ser aplicados cursos de TD&E de preparação pedagógica, de leitura musical ou de música de câmera entre outros para que o indivíduo seja atualizado, competente e hábil em seu desempenho.

 

E que tipo de estratégias educacionais poderia ser aproveitado no meio musical? Um deles é o Laboratório orientado que é uma experiência de aprendizagem na qual os alunos interagem com materiais brutos. Esse meio, por exemplo, será útil para um grupo de músicos que precisam aprender mexer com os programas de computador que criam as partituras para poder montar métodos ou apostilas para seus alunos. Assim, trabalhando com os computadores na digitação de partituras, o indivíduo também está desenvolvendo a percepção musical interna que extremamente importante no desempenho de cantores ou os que tocam instrumentos sem afinação exata (Drahan, 2007).

 

Outro meio educacional, Palestra, geralmente é aplicado nas aulas cujo objetivo é trazer conhecimento teórico ao aprendiz. Por exemplo, um curso de saúde vocal, que incluirá as Palestras sobre efeitos de nicotina e cuidados gerais, os depoimentos de pessoas que passaram por problemas com aparelho vocal (por exemplo, laringectomizados) e as visitas ao hospital, poderá mudar as atitudes tanto de um cantor, cujo desempenho extremamente dependente da saúde vocal, quanto de qualquer músico. E isso torna ser ainda mais importante se ele trabalha com crianças.

 

O Simpósio, como outra estratégia, também consiste na transmissão do conhecimento teórico, porem pressupõe uma participação da turma maior. Deste modo uma série de pequenas apresentações sobre música de câmera ou meios de expressão musical poderá ajudar na preparação do repertório, na qualidade da interpretação etc.

 

Para incentivar a livre reflexão dos indivíduos, estimular a fazer uma pesquisa sobre determinado assunto e, até, gerar novas idéias é interessante organizar o Debate: discussão estruturada em que duas equipes defendem argumentos opostos. Dependendo do objetivo da ação educacional o assunto do Debate poderá ser uma interpretação realizada ou apreciada por alunos recentemente ou uma inovação tecnológica na área de música.

 

Num curso que pressupõe aprimoramento das habilidades práticas de qualquer músico é importante desenvolver o Projeto de gravação em conjuntos pequenos. Trabalhando cooperativamente os alunos irão conscientizar melhor as dificuldades de execução em equipe, analisar os próprios erros e, dessa maneira, aumentar o nível da qualidade de interpretação no seu dia-dia. Essa atividade pressupõe o Estágio supervisionado anterior que seria uma preparação de obras de música de câmera sob a orientação de um tutor.

 

Na escolha das estratégias educacionais não podemos esquecer que a tecnologia moderna trouxe aos professores a possibilidade de aplicar as ações de TD&E a distancia. Em razão do aumento da demanda por ações que desenvolvam estratégias de formação e atualização contínua, os pesquisadores passaram a desenvolver e oferecer programas de educação corporativa, formação e qualificação profissional aproveitando novas tecnologias de comunicação e informação, que possibilitam um alcance maior de pessoas do que cursos presenciais. 

 

Os programas de computador modernos permitem aplicar num curso a distância, por exemplo, tais estratégias educacionais como Pesquisa bibliográfica, Seminário, Entrevista ou Brainstrom que é o esforço de um grupo para gerar novas idéias para solucionar criativamente um problema. Acredita-se que um curso a distância com essas estratégias é capaz de resolver vários problemas de desempenho, mantendo atualizados os músicos que dão aulas, que trabalham com arranjos e composição entre outros. Entretanto há necessidade de uma investigação nessa área para poder saber como as ações de TD&E funcionam na música e para poder desenvolver as estratégias cada vez mais adequadas.

 

Entretanto importante lembrar de que se a Análise de Necessidade de Treinamento foi mal executada, mesmo que a ação educacional seja pedagogicamente bem elaborada, não podemos ter a garantia de que ela corresponde às necessidades individuais ou de organização: “de nada adiantarão os esforços de planejamento se, antes, a ação não tiver sido alinhada ao contexto de trabalho dos funcionários e da organização” (Meneses, Zerbini, Abbad, 2010).

 

Discussão e Considerações Finais

Como já comentamos, atualmente há necessidade de proporcionar aos indivíduos a possibilidade contínua de aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes que, com as novas exigências do mercado de trabalho, aparecem cada vez mais diversos e complexos. As pesquisas desenvolvidas na área de TD&E oferecem uma grande experiência em diversos campos de trabalho, porém, até onde sabemos, isso não está sendo aproveitado no ambiente musical. Portanto achamos importante levantar a questão de aplicação do conhecimento existente para área de música e, mesmo sem aprofundar se em etapas do sistema de TD&E, mostrar a necessidade de formação musical contínua e a possibilidade de organizações musicais aumentarem o desempenho dos seus funcionários através das estratégias adequadas.

 

Referências Bibliográficas

GODÓI-DE-SOUSA, E. (2007). TD&E na Gestão Estratégica de Pessoas no Terceiro Setor. In: X SEMEAD - Seminários em Administração FEA-USP, 2007, São Paulo. X SEMEAD.

MENEZES, P. P. M.; ZERBINI, T.; ABBAD, G. (2010). Manual de Treinamento organizacional. Porto Alegre: Artmed.

FERREIRA, R. R.; ABBAD, G.; PAGOTTO, C. P.; MENESES, P. P. M. (2009). Avaliação de necessidades organizacionais de treinamento: o caso de uma empresa latinoamericana de administração aeroportuária. REAd, 15(2) maio-agosto.

FREITAS. I.A.; BORGES-ANDRADE, J.E. (2004). Efeitos de treinamento nos desempenhos individual e organizacional. Revista de Administração de Empresas, 4,3 p. 44-56.

MASETTO, M.T. Aula: ambiente de aprendizagem e de trabalho profissional do docente. In: MASETTO, M.T. Competência Pedagógica do Professor Universitário. São Paulo: Summus, 2003. (p.73-83)

DRAHAN, S. (2007). Ouvir a voz: a percepção da produção vocal pelo Regente Coral – método e formação. – São Paulo, p.146.

 

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