Formação musical contínua - 2a parte do artigo

Formação musical contínua - 2a parte do artigo

Continuaremos então falar sobre a Formação Musical Contínua - o tema que foi começado aqui dia 16 de fevereiro.

 

Antes de tudo precisamos ver o que se subentende quando falamos sobre o Treinamento, Desenvolvimento e Educação e qual é a diferença entre essas ações. Segundo Menezes, Zerbini, e Abbad (2010), Treinamento “prepara os indivíduos para melhorar o desempenho no cargo atual”, em outras palavras, tem uma tarefa de alcance de curto prazo. O Desenvolvimento, em sua vez, está direcionado “para o crescimento pessoal do empregado, sem manter relações estritas com o trabalho em determinada organização”. E finalmente, a Educação “refere-se às oportunidades dadas pela organização ao indivíduo visando prepará-lo para ocupar cargos diferentes em outro momento dentro da mesma organização”, tendo a finalidade de formar a pessoa para a vida e para o mundo, com um alcance mais de longo prazo (Menezes, Zerbini, Abbad, 2010).

 

Como isso pode ser apresentado na área de música? Por exemplo, um master class de violino para orquestrantes ou de canto para cantores assumirá caráter de Treinamento, pois isso seria uma ação de aprimoramento das habilidades práticas necessárias no dia-dia deles. As palestras sobre saúde vocal ou qualidade de vida no trabalho ou um curso que ensina explorar programas musicais no computador podem ser chamadas de ações de Desenvolvimento. 

 

Agora se a organização tem interesse que determinados profissionais passarão a exercer uma função mais complexa ou diferente a atual, será necessário adicionar um programa de Educação: um curso de regência, de história de música, de percepção; ou programa de longa duração: graduação, especialização etc. 

 

Tais ações são direcionadas para aperfeiçoamento e aquisição de conhecimentos, habilidades e atitudes para suprir lacunas de desempenho no trabalho e preparar os funcionários para outros cargos também.

 

Para traduzir a experiência existente para área de música é necessário antes conhecer um pouco o sistema de TD&E. Há três etapas na área de TD&E: avaliação de necessidades de aplicação das ações de TD&E, planejamento e execução de tais ações e avaliação de seus efeitos. A primeira etapa é indispensável, pois verifica se um programa de TD&E será adequado para o aprimoramento de desempenhos individuais e organizacionais. É extremamente importante identificar os motivos reais dos problemas de desempenho. As principais categorias destes são: condições (suporte necessário para a realização de determinada atividade de trabalho), motivação (razões que justificam o esforço do indivíduo no trabalho) e capacidades (conhecimentos, habilidades e atitudes necessários para o trabalho).

 

"A entrega de uma ação educacional que não seja precedida, então, pela análise da demanda educacional, mais especificamente por uma análise dos determinantes do desempenho humano em contexto de trabalho – condições, motivação e capacidades - coloca em risco os investimentos organizacionais, reduzindo, conseqüentemente, a credibilidade dos sistemas TD&E" - Meneses, Zerbini, Abbad (2010).

 

Atualmente as avaliações de necessidades de treinamento não têm sido realizadas de modo sistemático em ambientes organizacionais.

 

As vezes os problemas ou necessidades da organização decorrem de falta de condições adequadas de trabalho ou de motivação para o trabalho. Destaca-se: as ações de TD&E são recomendadas só para resolver as questões de desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes dos profissionais e não outros problemas estruturais da organização. Como esse artigo visa somente apreciar a possibilidade de aplicação de programas de TD&E no espaço musical e considerar as estratégias de aprendizagem adequadas, nos não vamos discutir as etapas de análise da demanda e de avaliação dos efeitos de ações educacionais, mas falaremos a respeito da parte prática do planejamento: seleção e desenvolvimento de estratégias de aprendizagem.

 

Antes de tudo é necessário entender como acontece o processo de aprendizagem e de trans­ferência de aprendizagem para diferentes ambientes cor­porativos e profissionais. Ao longo do último século foram desenvolvidas várias teorias de aprendizagem que podem ser classificadas em três grandes grupos: comportamentalistas, cognitivistas e humanistas. Para atingir o objetivo educacional poderá ser aproveitada qualquer uma dessas três teorias pelo profissional na área de TD&E. Segundo Freitas & Borges-Andrade (2004), “os treinamentos, os de natureza cognitiva apresentaram maiores índices de impacto do que os afetivos, havendo poucos estudos sobre os psicomotores”.

 

Assim, depois de ter em mãos o mapa de problemas no desempenho, precisamos delinear os objetivos específicos e gerais da ação de aprendizagem. No processo de delineamento dos objetivos o desempenho sempre deve ser formulado com os verbos que indiquem ações humanas observáveis, descritas de forma precisa e clara. Segundo Meneses, Zerbini e Abbad (2010), “verbos de ação abstratos, tais como crer, sensibilizar, conhecer, entender, entre tantos outros, não permitem uma adequada compreensão acerca do que realmente se espera do aluno durante e ao final da ação educacional”. Em sua vez, os verbos de ação, que podem ser utilizados na área de música, tais como analisar, assistir, compor, interpretar, modular, produzir, são considerados como concretos e mensuráveis e reflitam claro e indubitavelmente o que está sendo esperado do aluno ou o que será aprendido.

 

A definição do desempenho esperado junto a de condição (recursos necessários para execução do desempenho) e de critério (elementos que especificam o padrão de desempenho exigido para atestar proficiência) irá conduzir a seleção da modalidade de aprendizagem. O maior problema nessa faze é de não esquecer que o foco da escolha de uma ação de TD&E é o aprendiz, que a seleção de estratégias e meios deve possuir a intenção de facilitar o processo de sua aprendizagem. A postura e a atitude de um professor em sala de aula devem se adaptar conforme as necessidades do grupo. As atividades em grupo, o diálogo professor-aluno, as técnicas participativas, tudo isso colabora a uma aprendizagem viva: “aulas vivas” (Mazetto, 2003).

 

Em todo caso, a escolha da modalidade de qualquer curso deve basear-se também nas características sociodemográficas, funcionais e profissionais dos indivíduos. Ao mesmo tempo é necessário “analisar os desempenhos contidos nas descrições de necessidades de treinamento ou nos objetivos educacionais a esta altura já delineados, a fim de compreender se são complexos e se a aquisição deles requer exposição prolongada do aprendiz a determinadas situações de aprendizagem” (Meneses, Zerbini, Abbad, 2010).

 

Agora para facilitar a definição de procedimentos, segundo literatura específica da área, os objetivos já delineados devem ser qualitativamente classificados entre objetivos cognitivos, afetivos e psicomotores. E sobre isso falaremos próxima vez. Grato pela atenção!

 

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